Sustentabilidade: mapeamento inédito aponta 8 mil famílias aptas a fornecer alimentos para a COP30
26/09/2025
(Foto: Reprodução) Trabalhadores e trabalhadores rurais da agricultura familiar do Pará
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Um mapeamento inédito identificou que cerca de 8 mil famílias da agricultura familiar da Amazônia estão aptas a fornecer alimentos para a COP30, que acontece em novembro de 2025, em Belém. O estudo, realizado pelos institutos Regenera e Fronteiras do Desenvolvimento, mostra que a compra de insumos para a conferência pode injetar R$ 3,3 milhões na economia rural, valor equivalente a quase 80% do orçamento anual do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em Belém.
A exigência de que ao menos 30% dos ingredientes servidos na conferência venham da agricultura familiar, agroecologia e comunidades tradicionais foi oficializada no edital publicado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). A medida é considerada histórica: nunca antes uma conferência do clima havia vinculado diretamente os cardápios a práticas sustentáveis e inclusivas.
“Essa injeção de recursos não é apenas um número. Significa o fortalecimento de cooperativas, associações, pequenos produtores e comunidades que adotam práticas que respeitam a floresta e os saberes tradicionais. É uma oportunidade real de impacto”, afirma Maurício Alcântara, diretor do Instituto Regenera.
Impacto econômico e social
O levantamento identificou ao menos 80 grupos organizados, entre cooperativas, associações e redes produtivas, preparados para atender à demanda da COP30. Segundo os organizadores, o aporte financeiro pode gerar renda, valorizar práticas agrícolas sustentáveis e ampliar a dignidade no campo.
A iniciativa faz parte do programa “Na Mesa da COP30”, liderado pelos institutos Regenera e Comida do Amanhã, que conta com a participação de dezenas de organizações da sociedade civil e o endosso de órgãos como o Consea, a CNAPO, o CNPCT e o Centro de Excelência contra a Fome da ONU.
Trabalhadores rurais cultivam a terra no Pará
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Alimentação e clima
O recorte é relevante também pela conexão direta entre produção de alimentos e mudanças climáticas. No Brasil, 74% das emissões de gases de efeito estufa estão ligadas à agropecuária e ao desmatamento. No mundo, o percentual é de cerca de 30%.
“Alimentação sustentável não é apenas uma questão de saúde. É uma ferramenta poderosa na luta contra as mudanças climáticas. Trazer a agricultura familiar e a agroecologia para o centro da COP30 mostra que outro modelo de produção é possível e necessário”, reforça Alcântara.
Logística e legado
Para garantir o fornecimento, a Conab de Ananindeua (PA) será estruturada como centro de armazenamento e distribuição da produção local durante a conferência. A medida, segundo a Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop) e a OEI, deve deixar um legado que vai além do evento, ampliando a capacidade de atendimento a políticas públicas, como a alimentação escolar, e fortalecendo estratégias de combate à fome.
“Oferecer uma alimentação local, nutritiva e sustentável durante a conferência é um passo fundamental para valorizarmos quem protege a floresta e produz com base em saberes ancestrais. Mas também tem potencial para transformar a Região Metropolitana de Belém em um grande exemplo de como a agricultura familiar pode e deve ser priorizada nas políticas de abastecimento”, conclui Alcântara.
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